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Certas setas


Se o ato de viver pudesse ser representado graficamente, seria algo cheio de setas. Algo como você no centro, representado por um ponto, envolto por um círculo, que seria o universo. E aí haveria uma porção de setas. Umas apontadas do universo pra você e outras partindo de você para o universo. Sim. Porque existem duas maneiras de se viver. A primeira é interferindo no mundo. A segunda é sofrendo interferências dele.

O que mais se vê por aí são pessoas que reclamam da vida. O que menos se vê são motivos para se reclamar. É óbvio que existe muita gente em situação de miséria que não possui os elementos básicos para sobreviver fisicamente nesse mundo. Porém, mesmo a galera que tem esses elementos anda sofrendo espiritualmente mesmo e achando a vida uma bosta. É aí que mora a ausência de motivos. É aí que mora a falta de setas partindo de você para o universo e o excesso de setas vindo em sua direção.

A primeira coisa a se levar em conta é que o sentido das setas é você quem determina. Você pode ter uma atitude passiva em relação a vida e se tornar vítima fácil dos supostos problemõõõõões que aparecem por aí. Ou então, pode resolver moldar a realidade ao seu redor. A segunda escolha é a mais divertida. Você pode deixar a vida simplesmente do jeito que você quiser.

O vestibular no qual você tem que passar pode te encher de setas, te deixar desanimado, depressivo, preocupado devido à dificuldade. Mas você também pode lançar as suas setas e agradecer pelo grande desafio que te foi posto à frente, focar na futura felicidade que você terá com a aprovação e, pimba, ser aprovado. Você pode reclamar devido ao seu chefe chato e encrenqueiro e perder a motivação ao ir trabalhar. Mas você pode também apreciar a situação ao saber que poderá ganhar experiência ao lidar com uma pessoa teoricamente difícil e até tentar fazer com que o chefe mala simpatize contigo, por que não?, e, tchongas, ser promovido. Você pode achar todo mundo chato, porque ninguém nunca será perfeito pra você. Ou você pode se concentrar nas coisas boas que existem em cada pessoa e, cabrum, aprender com elas. Você pode sofrer interferências. Você pode interferir.

Eu sei que tudo isso pode parecer meio teórico-bonitinho-mas-na-prática-é-diferente. Mas, não é não. É exatamente assim que funciona. A vida é do jeito que a gente quer. O que falta para as pessoas lançarem suas setas é unicamente a visualização de objetivos. Tem muita gente vivendo aí sem saber o que quer da vida e até mesmo sem saber que é preciso querer algo para se viver. E por que não sabem? Porque não pensam. O segredo é você sempre fazer análises críticas sobre tudo e chegar às suas conclusões. E aí viva de acordo com as conclusões às quais você chegou. Crie uma identidade e siga-a. Eu sou o Zé e quero ser oftamologista quando crescer pra ganhar muito dinheiro, porque pra mim dinheiro traz felicidade, mas as pessoas acham isso feio. Não importa, você não acha, então seja. Eu sou o João e quero ser professor de Física, mas meus pais acham que vou passar fome e viver sem dinheiro. Dane-se, se você faz o que gosta, será bem sucedido e o dinheiro será conseqüência. É tudo muito simples.

O tempo é curto para ficar se lamentando com coisas supérfluas. A vida é só uma. E se você acredita que tem mais de uma, eu te digo que essa aqui, essa de agora, só tem ela mesmo. Então, não desperdice, amigo. Em síntese: não seja o alvo, seja o arqueiro.

Ninguém é perfeito

A frase batida de hoje é a seguinte: ninguém é perfeito. Todo mundo cita ela, todo mundo se justifica com ela, todo mundo lamenta com ela. Mas... perfeição? Qual o conceito de perfeição? E se existe um conceito pronto, quem o criou? E, principalmente, por que ninguém é perfeito?

Na verdade, é humanamente impossível ser perfeito. Tecnicamente impossível mesmo. Tentar ser perfeito é como tentar, ao mesmo tempo, desenhar um círculo com a mão esquerda e um quadrado com a mão direita. Não dá, pronto e cabou. E por quê?

Simples. Digamos que um rapaz tenha algumas qualidades, do tipo ser um rapaz aventureiro, criativo, cheio de idéias, que gosta de aproveitar cada gota da vida vivendo de acordo com seus próprios ideais, sem se deixar levar pelos padrões estabelecidos pela sociedade. Provavelmente também seria desleixado com as coisas, desligado, um pouco irresponsável, seria aproveitador, desorganizado, egoísta, um namorado infiel, etc. Seria rejeitado, porque as mulheres querem alguém pra casar.

Um outro rapaz, poderia ser cheio de qualidades também. Responsável, honesto, organizado, fiel, sério. Porém, tenderia a ser excessivamente metódico e cauteloso, caseiro demais, engomadinho, sem senso de humor, apático pra vida. Esse também seria rejeitado, porque mulher gosta é de homem cafajeste.

O que a sociedade chama de qualidade está sempre entrando em conflito com o que a mesma sociedade chama de defeito. Há uma incompatibilidade. Ninguém consegue aproveitar a vida e ser responsável, ao mesmo tempo. Ninguém consegue ser criativo e sério. Ninguém consegue ser aventureiro e fiel. É biologica, social e matematicamente impossível ser perfeito. Ponto. E aí as mulheres se tornam cronicamente insatisfeitas e por isso fica tão dificil tentar entendê-las.

E agora? O que fazer? Vai todo mundo morrer imperfeito e pronto? Não.

Não, porque o conceito de perfeição é trabalhado durante a vida toda de acordo com a cabeça dura e fechada da gloriosa sociedade. Ser perfeito não é, nem de longe, seguir prontamente as regras prontas de um livrinho doutrinadamente pronto e inalteravelmente pronto. E eu nem tô falando da bíblia.

Então o que é ser perfeito? E que livro é esse? Aí só no próximo texto, afinal, ninguém é perfeito.

Limão e gelo?

A velha história: a vida é feita de escolhas. Isso com certeza tá mais batido que vitamina de banana. Mas, se você parar pra pensar na complexidade desse fato, você fica louco.


Normalmente quem lê ou escuta essa frase mais superficialmente interpreta essas escolhas de um modo mais geral. O vestibular que você vai fazer, a carreira que vai seguir, ir ou não à festa do Zé, e outros acontecimentos mais "marcantes". Só que, puta que o pariu, essas escolhas estão ocorrendo a todo segundo e determinando todo o resto da nossa vida.


É mais ou menos assim: você está com sede, mas vai esperar acabar o texto pra ir tomar água. Talvez se você fosse tomar água agora, encontraria uma lagartixa no seu copo e, com o susto, bateria a cabeça na pia. Seria levado ao hospital, onde conheceria a enfermeira, que por sinal é amiga do Zé e também está indo à festa, marcariam de ir juntos e se casariam depois. Se de fato esperar, a lagartixa já terá ido embora e adeus enfermeira.


Digamos que a cada minuto nós tenhamos que escolher entre duas opções banais. Por exemplo, no primeiro minuto escolhemos o suco de umbu em vez do de acerola. No segundo minuto escolhemos com leite, em vez de com água, e por aí vai. Levando em conta que cada decisão leva a consequências próprias, no décimo minuto nossa vida poderia ter seguido de 1024 maneiras diferentes, pensando exponencialmente. Como ficar tranquilo com isso? Como saber pra onde a gente tá indo depois de cada decisão?


O mais desesperador é que, vez ou outra, entramos no glorioso piloto automático. Aqueles momentos em que você vai vivendo tipo uma formiguinha operária caminhando em prol da sociedade, sem pensar no que tá fazendo. Aí é que é foda mesmo. Depois de meia hora você "acorda" e aí já era, as decisões foram tomadas e sua vida poderia ter seguido de 1073741824 maneiras diferentes! Se você acha exagero uma decisão por minuto, que seja! Trabalhe com a idéia de uma decisão por dia, é desesperador do mesmo jeito.


A vida é feita, sim, de mais escolhas do que você pode imaginar. E, em uma vida, quantas vidas poderíamos ter vivido? Faça as contas e enlouqueça.

Diga lá, meu irmão!


Quem é que vive? Faço essa pergunta com a agonia de quem sabe que a vida é mais complexa do que embalagem de pó royal e com angústia de quem percebe o autodesconhecimento em relação a todas as oportunidades de exploração da vida.

Afinal, quem vive de verdade? Será o doutor bem sucedido, neurocirurgião renomado, conta bancária recheada, pai de família responsável, cumpridor de todas as obrigações? Será o Zé da padaria, vida simples mas digna, casa humilde mas aconchegante, filhos, todos felizes com o que têm, por não terem conhecido o que não têm? Será o músico? Será o artista? O teórico? O revolucionário?

Qual é a da vida? Pró ou contra a sociedade? Seguir fingindo de cego ou abrir o olho e enfrentá-la? Criar sua uni-regra ou seguir a que já tem? Quem encontrou o caminho? Madre Tereza de Calcutá? Cazuza? Você?

É batido, mas não é de se negar: a vida é feita de escolhas. O difícil é ter maturidade para fazê-las. É como se sempre nos faltasse algum tipo de experiência. Sempre! Hoje, questionamos nossas atitudes de ontem. Como eu era idiota, e tal. E, embora hoje nos achemos inteligentes, dignos, amanhã questionaremos o hoje, e depois de amanhã, o amanhã. Então, se a vida é feita de escolhas e nunca temos os pré-requisitos para fazê-las seguramente, o que é viver? Arriscar?

Arriscar é um pouco arriscado, talvez. Pra quem não consegue andar muito bem aí pela vida, o equilíbrio nas atitudes ainda é uma excelente bengala. Se falta a maturidade para se decidir entre o individualismo e o altruismo, se equilibre. É mais ou menos como viver em busca da satisfação dos prazeres individuais, mas seguindo a velha história do não faça com o outro o que você não gostaria que fizessem com você. É também fazer do altruismo um ato individualista. Sim, sentir prazer ao satisfazer prazeres.

Se arriscar, se equilibrar, individualismo, altruismo, mas a pergunta é fixa: quem entre nós é aquele que vive? Quem pode bater a mão no peito e dizer que navega em paz pela vida? Enfim, quem é capaz de desvendar o mistério da embalagem do pó royal? É o neuro? É o Zé? Ou ninguém é?

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Sobre o mistério da embalagem do pó royal:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=3673749